
Fora de Estrada
“Para mais tarde recordar”…
Tudo na vida tem um efeito acção, reacção! Causa, efeito!
A vida segue num fio de tempo e tantas são as vezes em que nem percebemos que os sinais desse fio serão nós ou laços... a vida para mim, faz-se de momentos. Ou aproveitamos ou passamos ao lado, a vida nunca se repete da mesma forma. Pudemos repetir o lugar, a data e até quem nos rodeia, mas nunca, nunca será aquele exacto milésimo de segundo, aquele exacto enquadramento...
Este fio de tempo... é um desses laços! Para mais tarde recordar
Setembro de 2019...

“- Pai… olha ali? Está a dar umas… vamos?
“- Sim… Sim! Está mesmo!… Vamos!”
“- Mãeeeeeee…. Eu e o pai vamos surfar!! Até jááááá!
Julho de 2013
Entre duas ondulações de Sueste que carregam as suas águas quentes, ondas fortes e algum vento, parámos umas horas numa enseada abrigada dos ventos quentes. A ideia era apenas desfrutar de alguns momentos de sossego e deixar a nossa pequena “baby” (11 meses), chapinhar nas poças salgadas de uma maré bem vazia.
A surpresa estava ali… uma sessão leve de 40 minutos, calções, água quente e os “restos” da ondulação de Sueste que dava a volta ao cabo e ainda assim vinha subverter o suposto “flat” desta enseada. Da água podia ver a mulher da minha vida a caminhar com a nossa menina pelas mãos. São apenas os primeiros passos de uma “rabinho de fraldas” que brinca ao “senta-levanta”, gatinha rápido como um TGV, mas que ainda não caminha sozinha. Ao abandonar as esquerdas que fizeram a minha sessão, juntei-me às “mulheres da minha vida”.

Ali numa poça salgada no pico da maré vazia, coloquei a fish-tail twin-fin na água e num impulso sentei a pequena no deck… a primeira reação foi de espanto pela textura do wax, depois um sorriso e o arrastar das mãos pelo deck uma vez mais. Novo sorriso! Bateu de seguida os pés enquanto soltava um novo sorriso onde deixava antever os primeiros dentinhos. Naquela sua alegria, brindou-nos com palmas de contentamento.
Imagem registada ao estilo “para mais tarde recordar”. Este era o seu primeiro “passar wax / drop / take-off / tube-ride” da nossa pequenita.
O espanto pela textura, o arrastar das mãos no deck numa carícia de quem se deixa simplesmente levar pela linha de onda passando a mão na parede, os pés firmes no deck, as palmas na saída do tubo.
A nossa pequena está ainda muito longe do entendimento do que é surfar. Está ainda muito longe do momento em que vai decidir se quer ou não ser surfista - consigo antever esses momentos - mas vai demorar anos. Por agora ficam estas imagens, numa enseada que nos reservava uma surpresa muito maior do que as ondas que não deviam lá estar… o primeiro “drop” da nossa pequenita”.
(Texto redigido em Julho 2013 e publicado na Surf Portugal #247 Setembro de 2013)